Enchentes de monções na Índia. Incêndios na Califórnia. Terremotos e tsunamis na Indonésia. Erupções vulcânicas na Guatemala. Furacão Maria em Porto Rico.
Estas catástrofes recentes deixaram, cada uma delas, uma destruição maciça e generalizada. Milhares de vidas foram perdidas, empresas foram destruídas e as comunidades sofreram perdas econômicas de longo prazo.
Catástrofes de grande impacto como estas apresentam desafios únicos para a resolução de sinistros envolvendo interrupção de negócios. Neste blog, vamos explorar quais são esses obstáculos e destacar como a indústria de seguros está respondendo.
Danos em Grandes Regiões: Uma Espécie Diferente
O seguro de Lucros Cessantes (Business Interruption) geralmente cobre a perda de receita da empresa causada por um evento que interrompe as suas operações, como um desastre natural, maquinário defeituoso, ou incêndio. Geralmente é adicionado a uma apólice de cobertura patrimonial/empresarial ou incluído em uma apólice de cobertura compreensiva, em vez de ser oferecido como uma apólice individual.
Em um sinistro padrão envolvendo lucros cessantes, a empresa do segurado é geralmente coberta por perdas durante o período que leva para restaurar as suas operações à sua condição original. As apólices de lucros cessantes podem cobrir os lucros que a empresa teria obtido, as despesas operacionais (por exemplo, salários de funcionários, pagamentos de empréstimos, impostos) e as despesas de mudança para um local temporário. A cobertura geralmente começa alguns dias após o incidente e dura até que o local da empresa se torne operacional novamente, embora apólices de lucros cessantes “estendidas” e “contingentes” possam ser adquiridas para lidar com circunstâncias mais extremas.
As liquidações são determinadas usando os registros de receitas e despesas da empresa. Dado que a completude e disponibilidade desses registros variam de negócio para negócio, definir os parâmetros para o cálculo dos lucros cessantes o torna um dos tipos de sinistros mais difíceis e disputados. Em um desastre catastrófico onde predominam danos em grandes regiões, este desafio só é ampliado. Isso porque o impacto econômico dos danos em grandes regiões pode levar meses para ser apurado.
Avaliar os danos físicos iniciais a edifícios, equipamentos ou estoques pode ser simples. Outros fatores que contribuem para perdas de receita, no entanto, podem ser mais difíceis de calcular e podem levar meses para que uma equipe de contabilidade forense faça a triagem. Estas variáveis complicadoras podem incluir:
- A incapacidade de restaurar registros financeiros e outros dados para as empresas que não tinham Planos de Recuperação de Desastres;
- Falta de acesso físico ao local, devido a estradas destruídas, enchentes ou infraestrutura danificada;
- Falta de recursos para reparação, tanto de mão-de-obra quanto de materiais;
- Interrupção de serviços essenciais (por exemplo, eletricidade, água, gás);
- Danos em toda a cadeia de fornecimento, de fornecedores a distribuidores e clientes.
Do ponto de vista da interrupção dos negócios, os danos em grandes regiões podem prolongar o período de indenização muito além dos prazos esperados.
O Impacto de Danos em Grandes Regiões ao Redor do Mundo
Globalmente, estima-se que os desastres naturais custam em média 330 bilhões de dólares por ano. Segundo o Banco Mundial, isso é mais do dobro do tamanho de toda a ajuda oficial ao desenvolvimento – o dinheiro que os países desenvolvidos reservam para ajudar os países em desenvolvimento.
A Munich Re relata que apenas 16% do total das perdas decorrentes de catástrofes naturais estão seguradas, com variações de país para país. Nos Estados Unidos, o número é de 64%, enquanto em algumas áreas da Ásia é tão baixo quanto 1%.
Uma divulgação da seguradora contendo estatísticas de desastres para o primeiro semestre de 2019, afirmou que: “Uma característica marcante das estatísticas de perdas… é a alta proporção de perdas que afetam os países mais pobres. Três dos cinco desastres mais caros afetaram países emergentes e em desenvolvimento. Estes incluem um desastre de inundação no Irã (perdas totais de US$ 2,5 bilhões), e perdas por tempestades e inundações do ciclone Fani na Índia e em Bangladesh em maio (US$ 2,2 bilhões)”.
Moçambique, um dos países mais pobres do mundo, foi particularmente atingido quando o ciclone Idai aterrissou em março de 2019, próximo ao porto da Beira, que tem 500.000 habitantes. Os ventos de até 170 km/h destruíram muitas casas e edifícios, a maioria dos quais eram estruturas simples. Em combinação com as fortes chuvas, a onda de inundação da tempestade desencadeou inundações sobre o terreno litorâneo plano que se estendia para o interior. As perdas totais em Moçambique e países vizinhos chegaram a aproximadamente US$ 2 bilhões, relata a Munich Re. A perda em Moçambique é equivalente a cerca de um décimo do Produto Interno Bruto (PIB) do país – um enorme fardo.
Os pobres sofrem de forma desproporcional quando ocorre um desastre em uma área extensa. “Eles estão mais expostos, mais vulneráveis e menos capazes de se recuperar”, observa o Banco Mundial. Materiais de construção pobres, proximidade a planícies de inundação e falta de seguro significam que as famílias mais pobres provavelmente perderão uma parte maior de seus ativos quando um furacão ou outro desastre natural ocorrer.
De fato, as pesquisas mostram que a cada ano os desastres naturais arrastam cerca de 26 milhões de pessoas para a extrema pobreza, definidas como vivendo com US$ 1,90 por dia ou menos.
O Efeito Cascata
Em 2019, houve perdas econômicas da ordem de US$ 232 bilhões ao redor do mundo devido a desastres naturais, dos quais, US$ 71 bilhões estavam segurados. Em comparação com 2018, os prejuízos aumentaram em US$ 7 bilhões, mas o volume segurado caiu US$ 19 bilhões. Os principais desastres incluíram:
- Tufão Hagibis (Japão) – US$ 15 bilhões em perdas, 99 mortes;
- Enchentes de Monções (China) – US$ 15 bilhões em perdas, 300 mortes;
- Tufão Faxai (Japão) – US$ 10 bilhões em perdas, 3 mortes
- Enchentes de Monções (Índia) – US$ 10 bilhões em perdas, 1.750 mortes;
- Furacão Dorian (Bahamas, Caribe, EUA, Canadá) – US$ 10 bilhões em perdas, 83 mortes;
- Tufão Lekima (China, Filipinas, Japão) – US$ 9,5 bilhões em perdas, 101 mortes;
- Inundação (Iran) – US$ 8,3 bilhões em perdas, 77 mortes.
Furacões, tornados e terremotos são parte do cotidiano em muitas áreas do mundo, contudo, com qualquer desastre natural, as condições em algumas áreas se tornam bem mais difíceis do que em outras.
Os danos iniciais à estrutura de uma empresa podem ser de certa maneira pequenos em relação às perdas financeiras que o incidente desencadeia. Por exemplo, em um desastre natural, estradas, eletricidade e outros tipos de infraestrutura são frequentemente danificados, impedindo a entrega de matérias-primas ao negócio. Em outros, os clientes não conseguem chegar à empresa ou podem até ter sido evacuados completamente.
Dependendo do escopo geográfico do dano, os recursos que normalmente são trazidos para dar suporte (por exemplo, equipamentos de construção para remover escombros, trabalhadores para consertar edifícios, Internet para restaurar arquivos de backup) podem não estar disponíveis porque as áreas próximas também foram atingidas.
O foco inicial em catástrofes extremas é simplesmente obter ajuda humanitária básica aos residentes, o que requer foco no restabelecimento de acesso físico ao local do desastre, restauração de energia e distribuição de alimentos e água.
Estes obstáculos confusos tornam a determinação de perdas de receita em sinistros de lucros cessantes extremamente complexa e seus prazos de liquidação variáveis.
Contabilidade de Lucros Cessantes sobre Danos em Grandes Regiões
Mesmo na ausência de um desastre natural de grandes proporções, a contabilidade de lucros cessantes está sujeita a alguma interpretação. Ela geralmente cobrirá a perda de receita, despesas operacionais e custos de transferência temporária. Entretanto, pode não cobrir a renda que não está documentada, como serviços públicos, perdas decorrentes de um fechamento parcial do negócio, ou danos causados por enchentes.
Quando se adicionam as complicações normalmente associadas a um desastre natural (por exemplo, falta de energia, obstáculos na cadeia de fornecimento etc.), a avaliação do lucro cessante se torna ainda mais complexa.
“O período de indenização varia nas apólices de lucros brutos utilizadas globalmente em relação às apólices de lucros brutos normalmente utilizadas nos EUA, onde o período de indenização precisa ser definido antecipadamente”, disse Caroline Woolley, líder do Centro de Excelência em Interrupção de Negócios da Marsh, em um artigo do Insurance Journal. Ela disse que, embora seja comum optar por um período padrão de 12 meses em lucros brutos, isso raramente é suficiente”.
Outro fator complicador para medir catástrofes de grande impacto é a abordagem que é adotada, seja “Economia Considerada” ou “Economia Ignorada”. O escritório de advocacia Pillsbury explica desta forma: “A abordagem “Economia Ignorada” olha para trás e mede a perda do segurado somente contra os níveis de negócios pré-catástrofe e não leva em consideração o impacto das condições reais pós-catástrofe sobre a economia, o mercado ou a demanda. Os tribunais que aplicam a abordagem da Economia Ignorada normalmente o fazem porque estão mais preocupados que o segurado colherá algo “inesperado” da catástrofe. A abordagem de Economia Considerada, por outro lado, procura colocar o segurado na posição que ele teria ocupado no ambiente pós-catástrofe real se tivesse sido capaz de continuar suas operações, o que evita dar a uma seguradora um “lucro inesperado (windfall)”.
Nenhuma das abordagens beneficia consistentemente um tomador de seguro ou uma seguradora em todas as situações. Os resultados, ao contrário, dependem dos fatos e circunstâncias únicas da perda.
Uma das limitações fundamentais da cobertura de lucros cessantes em desastres em grandes áreas é que a linguagem da apólice muitas vezes é anterior às realidades e diversidade das empresas de hoje. Como tal, Woolley disse que as cinco principais questões sobre lucros cessantes para as seguradoras são:
- Obter os valores corretos;
- Determinar o período de indenização;
- Danos abrangendo uma extensa região;
- Cobertura inadequada da cadeia de fornecimento;
- Processos de liquidação de sinistros extremamente demorados e minuciosos.
Como a Indústria do Seguro está Respondendo
As seguradoras estão ficando mais restritivas na cobertura de danos sobre grandes áreas. Elas estão excluindo certos territórios e tipos de eventos catastróficos, assim como estão examinando os sinistros de lucros cessantes com mais cuidado. Esta mudança está ocorrendo em todos os níveis, desde a linguagem da apólice aos períodos de indenização à mitigação do risco com os segurados.
Extensões de Apólice
Uma apólice básica de interrupção de negócios cobrirá as perdas comerciais decorrentes de danos à propriedade do segurado, mas no caso de um evento de amplo impacto, estão sendo acrescentadas extensões de apólices para ampliar a cobertura. Por exemplo, no Reino Unido, podem ser adicionadas contingências adicionais para Incêndios e Perigos Especiais (por exemplo, incêndios, explosões de gás) ou Engenharia (por exemplo, falha de serviços públicos). Nos Estados Unidos, há cláusulas da Autoridade Civil (para cobrir ações da polícia local ou bombeiros) e contingências de Perda de Atratividade (para perda de renda por danos a um negócio ou monumento próximo).
Estas extensões aumentam o custo do prêmio, mas podem ser fundamentais para determinar se uma empresa sobreviverá ou não a um desastre de grande amplitude. Em quase todos os exemplos, o período de indenização, coberturas, franquias e períodos de espera são claramente definidos.
Mitigando Riscos e Alavancando Tecnologia
O setor de seguros está dando passos largos para responder mais rapidamente a desastres em grandes regiões, ao mesmo tempo em que tenta prever melhor as avaliações de sinistros. Eles estão usando uma abordagem multifacetada de preparar proativamente as empresas, esclarecendo os limites de cobertura e alavancando dados e tecnologia.
Eles estão trabalhando junto a seus segurados para:
- Criar Planos de Continuidade/Recuperação de Desastres;
- Usar armazenamento em nuvem remoto e externo, para backup de dados relevantes;
- Documentar completamente o impacto financeiro potencial de uma interrupção de negócios tanto a curto como a longo prazo;
- Documentar componentes chave de manufaturas e cadeias de fornecimento e distribuição;
- Identificar todas as potenciais áreas de perdas e documentar como elas seriam no cenário pós-perda.
Eles também estão alavancando o uso de tecnologia para eliminar arquivos em papel, usando digitalização e outras ferramentas digitais para documentar perdas e enviá-los imediatamente a todas as partes interessadas. Em outros casos, a seguradora enviará drones para avaliar os danos antes de uma visita ao local. Os gerentes de risco também estão atualizando linguagens e verificando se a formulação, as extensões e os limites das apólices estão corretos e que eles funcionem adequadamente para uma variada gama de tipos de negócios.
Experiência Importa
Os sinistros por interrupção de negócios em cenários de perdas em grandes áreas são um dos tipos mais complexos de indenização, e uma equipe de contabilidade forense experiente é absolutamente essencial. Se você quiser saber mais sobre a experiência de nossa equipe na resolução de sinistros em todo o mundo sob os ambientes mais desafiadores de desastres, entre em contato conosco hoje mesmo.