Q&A com Carlos Rivera, Lowers Forensics International
A América Latina consiste em 33 países e territórios dependentes e cobre 19,2 milhões de quilômetros quadrados desde a fronteira norte do México até a ponta sul da América do Sul, incluindo o Caribe. A região inclui nações cujos cidadãos falam espanhol, português e francês e tem uma população de mais de 640 milhões de pessoas, o que a torna uma das áreas mais diversificadas do mundo em termos culturais, políticos e econômicos.
A recente série de grandes desastres naturais que impactaram a região nos últimos anos, bem como a diversidade cultural da própria região, apresenta desafios reais para as companhias de seguros e reguladores.
Nos sentamos com Carlos Rivera, Vice Presidente Sênior – Caribe e América Latina da Lowers Forensics International para entender as nuances e os obstáculos envolvidos na assistência à equipe de regulação de sinistros na América Latina.
Q. Quais são algumas das diferenças em contabilidade forense na América Latina em relação a outras regiões?
A governança conflitante é uma grande questão. Muitas pessoas tendem a pensar na América Latina como uma entidade quando na realidade são 33 países diferentes e territórios independentes, cada um com suas próprias estruturas de governança, políticas e culturas. Não há padronização entre países, portanto é preciso entender as nuances culturais, o clima geopolítico e as políticas que têm prioridade.
Você verá apólices de seguro que são derivadas dos EUA ou do Reino Unido, assim como uma fusão de diferentes apólices de vários países. Isto cria diferenças nas coberturas, chamadas de Diferença de Coberturas (DIC). A regra geral é que a apólice global tem prioridade sobre a local, mas pode haver regulamentações em vigor no país de tal forma que, mesmo havendo uma diferença nos limites, pode resultar em termos de referência à apólice local em vez da global. Nestes cenários, um relacionamento próximo com a equipe de regulação torna-se fundamental ao avaliar adequadamente uma perda potencial.
Q. Que tendências estão impactando a contabilidade de sinistros na América Latina?
Globalização
Em 2018, o volume total de prêmios dos 25 maiores grupos de seguros da América Latina e do Caribe foi de US$ 150.2 bilhões. E embora ainda haja uma grande disparidade entre as coberturas, estamos começando a ver as apólices se tornarem mais homogêneas. Como um todo, a América Latina está caminhando para apólices orientadas para o Reino Unido. Por exemplo, o México foi o primeiro país da América Latina a adotar uma estrutura modelada após a Solvency II, uma lei da União Europeia (EU) que padroniza a regulação de seguros. Desde esta época, o Brasil e muitos outros têm seguido o exemplo.
Também, em resposta a alguns dos desastres naturais que têm atingido a região nos últimos três anos, como o terremoto de 2017 na Cidade do México, o setor está bastante preocupado sobre tipos específicos de cobertura. Eles reconhecem que as coberturas das apólices existentes tendem a ser um tanto vagas, por isso estão interessados em se antecipar às questões e limitar a exposição ao risco. A Cibersegurança é uma dessas áreas.
Catástrofes em Grandes Áreas
Com algumas das recentes catástrofes na América Latina – furacões em particular – estamos vendo mudanças na política para tratar de Danos em Grandes Áreas (WAD) e interrupções de serviços públicos. Tipicamente, uma cobertura para lucros cessantes é acionada quando você sofre danos à sua propriedade, como um incêndio. Depois que o Furacão Maria atingiu Porto Rico, ficou claro que o segurado precisa considerar a cobertura de seguro para exposições de grandes áreas, tais como a interrupção no fornecimento de serviços essenciais. Caso contrário, os segurados ficariam abertos a enormes exposições.
Um artigo recente da Swiss Re descreveu a confusão que surge quando uma perda por lucros cessantes resultante de um dano à propriedade de um cliente ocorre concomitantemente com a perda por lucros cessantes resultante de um tufão ou outra catástrofe natural. Isso porque apenas as perdas por danos são cobertas; as perdas causadas pelo próprio evento não são.
Por exemplo, após um recente furacão em Miami, perdemos energia e ela voltou dentro de um dia ou dois. Em Porto Rico, os danos foram tão graves que, até hoje, ainda não há energia em algumas áreas da ilha. Os sistemas e infraestrutura antiquados são um problema em muitos países da América Latina, talvez com exceção do Chile. Portanto, há um grande esforço para compreender os danos em grandes áreas.
Q. Como está a América Latina em termos de adoção de tecnologias em torno da gestão de sinistros?
Os sinistros em que trabalhamos tendem a ser maiores, e as empresas estão geralmente atualizadas no que diz respeito à tecnologia. Em termos de processamento de sinistros, no entanto, a tecnologia está atrasada em alguns aspectos. A Lowers Forensics International tem um escritório no México, portanto, somos capazes de atender nossos clientes e eles podem nos solicitar serviços que não teríamos podido atender anteriormente. Com o escritório no México, começaremos a receber mais perdas médias e menores, e é aí que provavelmente começaremos a ver as diferenças em tecnologia.
Q. Você vê diferenças em termos de fraude e a necessidade de investigações de fraude?
O Reinsurance Group of America conduziu uma pesquisa em 2017 e descobriu que globalmente, 3% a 4% de todas os sinistros (1 em 30) são fraudulentos. Embora esse número não seja astronômico, na América Latina a fraude está se tornando mais aparente à medida que empresas e indivíduos se tornam conhecedores do funcionamento do sistema. No México, por exemplo, a taxa de detecção de fraude é de cerca de 9%. Coincidentemente estamos trabalhando em um esquema de pirâmide (Esquema Ponzi) envolvendo um banco neste exato momento.
Por outro lado, há uma falta de especialistas em seguros que sirvam a América Latina e que tenham experiência em fraudes, portanto há uma sede de informação, especialmente com empresas jovens. Temos trabalhado com as Unidades Especiais de Investigação (SIUs) designadas para essas perdas potenciais. As SIUs analisam os sinistros que chegam com quaisquer discrepâncias ou red flags, avaliando-os de forma mais crítica para potenciais fraudes. Os sinistros são atribuídos às SIUs antes de ir para o processamento.
É Bais do que Apenas Estar Presente
Carlos advertem as seguradoras para reconhecerem que só porque uma empresa tem uma presença latino-americana, não significa que seja especialista em contabilidade de sinistros ou que possa atender a todos os países da região. Você tem que fazer parte da cultura e da comunidade e ter uma compreensão profunda da governança, das coberturas de apólices e das habilidades de contabilidade forense para fazer o trabalho.
Para saber mais sobre o trabalho da Lowers Forensics International na América Latina, por favor contate-nos.